Quando o tema é digitalização, vários termos são discutidos – inclusive o da indústria 4.0. Qual é a sua definição?
Originalmente, digitalização significa a transformação de valores analógicos em formatos digitais. Mas o termo também retrata que a tecnologia da informação está cada vez mais importante na nossa vida cotidiana. Indústria 4.0 refere-se especificamente à digitalização da produção industrial. O ponto central é agregar valor com o aproveitamento de dados.
Então se trata de dados. Qual é o papel de big data?
Big data são volumes de dados grandes ou complexos demais para métodos de processamento convencionais. Nos processos de produção, por exemplo, os dados mudam muito rapidamente, é comum faltar uma estruturação, e as relações de causa e efeito são complexas. A simples coleta de dados não é eficaz. Por isso, precisamos de algoritmos que estruturem os dados especificamente e os dividam na medida certa. Em vez de big data, precisamos de smart data para que as empresas consigam agregar Valor.
Em que medida a digitalização industrial já é, de fato, empregada na prática?
No meio de produção, muitos temas já são realidade, como coleta de dados, automação de processos, comunicação digital, assim como a utilização de soluções em nuvem e inteligência artificial. Se as empresas utilizam essas tecnologias ou com que frequência as utilizam é algo que depende do setor, do tamanho e também da estratégia. Até agora, é frequente serem utilizadas apenas soluções isoladas para casos de aplicação individuais.
Quais serão os próximos passos na tecnologia de produção digitalizada?
Em primeiro lugar, é preciso gerar uma representação digital da produção. Para isso, é preciso que um novo software processe dados que já incidem durante a produção. Isso forma a base para um aprendizado sistemático: independente da unidade, em diferentes setores e abrangendo diversas disciplinas. Quando o conhecimento resultante desse aprendizado for amplamente disponibilizado, todos se beneficiarão de uma nova qualidade de suporte para decisões. Teremos uma representação cada vez melhor da realidade e, dessa forma, poderemos tomar decisões melhores mais rapidamente.
Isso parece bem promissor. Apesar disso, muitas empresas hesitam em destinar dinheiro a uma produção interconectada. Quais oportunidades têm as empresas que investem em soluções digitais?
As empresas que investem na sua interconectividade e digitalização podem otimizar seu negócio. A possibilidade de retorno dos custos de investimento não pode ser generalizada. Mas ainda há outras oportunidades: a longo prazo, uma produção digitalizada pode abrir modelos de negócio completamente novos. Para isso, é fundamental que as empresas reconheçam e aproveitem seu „tesouro de dados“ como tal.
Que outros desafios as empresas que querem utilizar soluções digitais precisam enfrentar?
Como em todos os processos de transformação, é importante que tanto os funcionários quanto os clientes e fornecedores aceitem a inovação. Isso funciona melhor quando todos percebem o valor agregado proporcionado pela solução..
Você falou em aceitação. Em relação a isso, a percepção da sociedade como um todo tem um papel importante. Os efeitos da digitalização são constantemente discutidos de forma controversa. Como você enxerga esse tema?
Como em todas as inovações técnicas, na digitalização também existem riscos e oportunidades. Só poderemos avaliar os efeitos reais nos próximos anos. Por isso, é imprescindível lidarmos com essa transformação social de forma consciente e responsável. Muitos têm a preocupação de que postos de trabalho sejam cortados. Acredito que especialmente processos de trabalho repetitivos serão, em parte, substituídos por soluções automatizadas, baseadas em dados. Mas haverá mudanças em todas as áreas. Por isso, é importante que os funcionários tenham uma formação direcionada. Como engenheiro e pesquisador, enxergo o futuro digital, especialmente na tecnologia de produção, de modo muito positivo. Só precisamos aproveitar bem as oportunidades.
„Quando o conhecimento resultante desse aprendizado for amplamente disponibilizado, todos se beneficiarão de uma nova qualidade de suporte para decisões.“ CHRISTIAN BRECHER sobre a visão de um aproveitamento coletivo dos dados de produção disponíveis
SOBRE O ENTREVISTADO: Christian Brecher estudou engenharia mecânica na Universidade RWTH Aachen, com ênfase em tecnologia de produção. Durante o doutorado, Brecher foi consultor científico da Airbus (na época, EADS Alemanha). Em 2001, assumiu a direção do setor de desenvolvimento na Dörries Scharmann Technologie, uma empresa alemã fabricante de máquinas-ferramentas. Em 2004, Brecher foi para a Universidade RWTH Aachen e tornou-se membro do conselho de diretores do laboratório de máquinas-ferramentas e membro do instituto de tecnologia de produção Frauenhofer.